Sejamos todos feministas - Chimamanda Ngozi Adiche



Chimamanda nos traz em poucas, porém precisas e necessárias, palavras um pouco sobre sua relação com a ideia e o fato do que é ser - e se afirmar - uma feminista. Do peso que essa palavra carrega ao mesmo tempo que é de extrema importância o empoderamento cada vez maior das mulheres, para que não haja vergonha alguma ao dizerem e SEREM feministas. E aos homens, cabe entender que eles também podem ser feministas (têm de ser) se acreditarem em princípios básicos como igualdade de direitos entre homens e mulheres.

O livro é um recorte da fala de Chimamanda para a palestra TEDxEuston de 2012. Um livro curto, de preço acessível, comprei o meu por R$11,90, deveria ter um exemplar em cada canto onde tivesse uma mulher ou homem disposto a tirar meia hora do seu dia para lê-lo. Porque inclusive essa meia hora poderia ser o suficiente pra modificar completamente seu modo de ver certas coisas desse ponto em diante. E essa foi uma das primeiras coisas que pensei "Minha nossa, como gostaria de ter um dinheiro extra pra deixar pelo menos um exemplar desse em cada ponto de ônibus próximo da minha casa. Ou pra começar um clube do livro e distribuir aos interessados. Tem tanta coisa essencial aqui e isso deveria chegar no maior número de pessoas possível. Nas escolas, nas pessoas."

Mas afinal, de que se trata esse livro? Situando um pouco, Chimamanda é uma jovem mulher negra, nigeriana, que tem por volta de seus 38 anos. A realidade opressora de seu país é ainda maior do que a vivida por nós aqui. É possível afirmar isso logo de início, porém há determinadas questões que estamos tão longe quanto elas por lá de serem resolvidas. A batalha é árdua! Claro, não há como negar que há certos espaços aqui dos quais não precisamos dos homens para entrar, diferente do que ela relata no livro ser uma realidade comum na Nigéria e países africanos em geral. No entanto, não sejamos ingênuas em acreditar que não sofremos preconceito, piadinhas ou sei lá mais o quê, que às vezes passam batido - ainda bem - quando vamos sozinhas a um bar, casa de show ou outro lugar qualquer que uma mulher "de respeito" não poderia frequentar sozinha. Se nos hospedamos em um hostel ou hotel, vez em quando tem um homem que acha que pode olhar ou puxar assunto - de cunho sexual ou demonstrando interesse - só pelo fato de estarmos desacompanhadas. Eu já passei por isso e, de início, fiquei com um grande medo que pudesse ocorrer algo que fugisse do controle (estava dividindo um quarto coletivo), o que eu faria? como agiria? Não somos ensinadas a nada disso. Porém, logo ativei meu 'mode sobrevivência' e pensei "que se dane, não tenho porque ter medo desse idiota." Ativei minha melhor cara de abuso, minha rapidez em cortar assunto e, acima de tudo, minha certeza de que não precisava passar por aquilo e que se viesse a precisar me defender de qualquer forma eu faria. Além de imediatamente tentar trocar de quartos, porque a insistência era ridícula.

Viver com esse medo não é normal. Não deveríamos temer o outro, mas parece inevitável, se formos mulheres, ter de ter cautela. E isso não é comum, não é natural, nem aceitável viver assim.

"Recentemente, uma moça foi estuprada por um grupo de homens, na Nigéria, e a reação de vários jovens, de ambos os sexos, foi algo do gênero: "Sim, estuprar é errado, mas o que ela estava fazendo no quarto com quatro homens?" Bem, se possível, tentemos esquecer a crueldade desse raciocínio...." pg 35

"A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura." pg 48

E assim vai, Chimamanda vai nos contando nessa palestra/livro, fatos ocorridos com ela durante toda a sua vida, além de histórias de outras mulheres que também passaram por diversas dificuldades, desde terem de usar aliança, mesmo sendo solteiras, por medo do que o outro poderia vir a dizer e para talvez assim "obter mais respeito e atenção" ao falar algo, se posicionar no trabalho. Ter de pensar na roupa que poderia ou não usar, no batom "extravagante demais", em não ter o sonho "que toda mulher tem de casar e ter filhos", em ser mãe e dona de casa. Em ter de se calar e fingir não saber, mesmo sabendo, mais que seu parceiro, e ganhar mais?!Nem pensar!!! É um monte de "NÃOS", que escutamos durante toda uma criação, uma diversidade de silêncios a se cumprir e que chega!!Não dá mais pra calar!

Sim, em algumas culturas o problema é ainda maior, mas em todo canto ainda nos resta o medo, o desrespeito, o "ah essa aí é assim porque é mal comida, tivesse um homem de verdade...." Isso tudo é tão vil, tão cheio de ódio, uma sociedade que ainda hoje quer perpetuar que as pessoas deveriam agir assim umas CONTRA as outras. Temos ainda de mudar tanto pra alcançar o básico, o indispensável, a igualdade de direitos, o que é certo. Não é nada fácil essa caminhada e por isso mesmo não dá mais pra ficar calada, imparcial.

Sejamos todos feministas e de batom vermelho, felizes, sorridentes, sem odiar a ninguém e nos posicionando enquanto seres sociais de mudança.


"A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar com um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente." Contracapa do livro.



E pra ilustrar lindamente isso tudo num futuro possível eu deixo esse vídeo!!!


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