Carta manchada
Como você está?
Faz tempo não penso em ti. Ontem vi no jornal um anúncio de penteadeiras antigas, era uma propaganda que tentava mostrar algo novo denegrindo cristaleiras, escrivaninhas e outras tantas coisas lindas, pareciam claramente do século 19 e por algum motivo esquisito,como não era da moda poderia se acabar.
Lembrei que só de você. Lembrei daquele dia que conversávamos sobre isso e compramos juntos o primeiro móvel lá de casa. Como ele está? Continua segurando aquele trambolho que a gente trouxe de viagem? Sorri largo quando pensei nele e nas nossas coisas.
Que pena que ficou tudo aí, que pena que acabaram nossas viagens.
E você já se recuperou daquela mania de mudar os papéis mofados e ficar uma semana doente e tossindo? Foi no médico esse ano? Esses anos que já passaram?
Sabe o Bel, o gato, ele tá tão velhinho, acho que vou ter que sacrificar, pegou uma doença esquisita, nunca mais foi o mesmo e vez em quando olha pra mim com aqueles olhos pretos, profundos e solta um miado largo, parece que tá chamando você. Me culpando de alguma forma de ter ido embora.
Tinha que ir, era tarde e passava o jornal da meia noite na casa do vizinho, que era surdo hoje não tenho dúvidas. Vi você ali deitado, ronco pesado, nem ia notar minha saída. E assim foi.
Tenho saudades de você, é claro, mas vi que também aceitou a decisão bem, não pediu pra voltar nem nada, no fundo a gente sabia né?! O que não te contei é que tava muito doente na época e achei mesmo que tinha chegado minha hora. Infelizmente não, tô aqui, mas foi bom sumir, até pra mim.
Será que você tá bem? Ainda mora aí? Vai ler esse pedaço de papel manchado?
Te quero tão bem, uma pena mesmo a nossa Torre de Babel ter sido mais forte pra cair. Saudades de você, saudades de mim, mas todo mundo tinha um tempo e escolhas e foram assim.
Não precisa me responder essa carta, talvez não esteja mais por aqui, ando cansada, lembra? Só que agora já posso ir, fiz tudo que tinha pra fazer, conheci quem eu quis, amei você, tive o Bel, é, chegou o fim. E vou feliz em saber, que você anda bem, porque se tinha alguém que era decidido nas coisas era você Joaquim.
Faz tempo não penso em ti. Ontem vi no jornal um anúncio de penteadeiras antigas, era uma propaganda que tentava mostrar algo novo denegrindo cristaleiras, escrivaninhas e outras tantas coisas lindas, pareciam claramente do século 19 e por algum motivo esquisito,como não era da moda poderia se acabar.
Lembrei que só de você. Lembrei daquele dia que conversávamos sobre isso e compramos juntos o primeiro móvel lá de casa. Como ele está? Continua segurando aquele trambolho que a gente trouxe de viagem? Sorri largo quando pensei nele e nas nossas coisas.
Que pena que ficou tudo aí, que pena que acabaram nossas viagens.
E você já se recuperou daquela mania de mudar os papéis mofados e ficar uma semana doente e tossindo? Foi no médico esse ano? Esses anos que já passaram?
Sabe o Bel, o gato, ele tá tão velhinho, acho que vou ter que sacrificar, pegou uma doença esquisita, nunca mais foi o mesmo e vez em quando olha pra mim com aqueles olhos pretos, profundos e solta um miado largo, parece que tá chamando você. Me culpando de alguma forma de ter ido embora.
Tinha que ir, era tarde e passava o jornal da meia noite na casa do vizinho, que era surdo hoje não tenho dúvidas. Vi você ali deitado, ronco pesado, nem ia notar minha saída. E assim foi.
Tenho saudades de você, é claro, mas vi que também aceitou a decisão bem, não pediu pra voltar nem nada, no fundo a gente sabia né?! O que não te contei é que tava muito doente na época e achei mesmo que tinha chegado minha hora. Infelizmente não, tô aqui, mas foi bom sumir, até pra mim.
Será que você tá bem? Ainda mora aí? Vai ler esse pedaço de papel manchado?
Te quero tão bem, uma pena mesmo a nossa Torre de Babel ter sido mais forte pra cair. Saudades de você, saudades de mim, mas todo mundo tinha um tempo e escolhas e foram assim.
Não precisa me responder essa carta, talvez não esteja mais por aqui, ando cansada, lembra? Só que agora já posso ir, fiz tudo que tinha pra fazer, conheci quem eu quis, amei você, tive o Bel, é, chegou o fim. E vou feliz em saber, que você anda bem, porque se tinha alguém que era decidido nas coisas era você Joaquim.
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