Viajo porque preciso, volto porque te amo
“Manhã do dia 52 da nossa
separação. Eu sinto que sobrevivi a um terremoto. Seis semanas longe de casa,
são como seis gotas de um calmante poderoso. Um calmante que não resolve a dor,
mas tranquiliza o juízo. Garganta do rio das almas, altitude 800 metros,
profundidade do rio 15 metros, largura entre 30 e 80 metros. O canal vai ter início
nessa parte do rio, isso se o rio não secar até lá. 70% dos habitantes já foram
embora daqui essa vai ser a primeira cidade a ser coberta pelas águas do canal.
Cidade abandonada, ponto inicial da transposição das águas. A gente sempre
pensa que é um super-homem, que faz tudo, que pode tudo, que resolve tudo, até
o dia que você leva um pé na bunda e aí a gente se sente perdido, fragilizado,
confuso. Você não consegue ser determinado, solitário, individual. Não consegue
nem mesmo terminar um relatório de viagem, não consegue se mover, você se
paralisa. É isso que eu sentia, paralisia múltipla, por isso fiz essa viagem,
pra me mover, pra voltar a caminhar. Voltar a comer um sanduiche de filé,
voltar a andar de moto, voltar a ver o Fortaleza ganhar. Pra voltar a ir à
praia no domingo, pra voltar a viver. Minha vontade agora é mergulhar pra vida,
um mergulho cheio de coragem, a mesma coragem daqueles homens de Acapulco
quando pulam daqueles rochedos. Eu não tô em Acapulco, mas é como se eu
estivesse.
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