Conversas Inéditas José e Pilar - Miguel Gonçalves Mendes


"Queremos estar acompanhados ou viver nossa solidão em companhia." Pílar del Rio (pg. 90)


O livro Conversas Inéditas - José e Pilar, de Miguel Gonçalves Mendes, foi resultado do trabalho desse diretor para o filme José e Pilar (2010) também dirigido por ele. O livro traz entrevistas realizadas durante o período da filmagem e algumas não entraram no filme, abordando o universo do relacionamento dos dois, como se conheceram em 1991, a história de vida de ambos e o que eles pensam sobre diversas questões e que entra num contexto político, de gênero (Pílar é maravilhosa e certeira em suas respostas) e social.
O livro é cheio de afeto por parte do diretor que escolhe as perguntas e tenta sempre dar um teor muito pessoal, abordar questões sobre o amor, a vida, romantismo, a percepção deles do mundo e do mundo sobre o "fenômeno" Saramago (inclusive lembrando muitas polêmicas que envolveram o autor). 
Agora, o que surpreende é a lucidez e coerência de ambos, a racionalidade frente a questões que poderiam ter respostas piegas ou prontas sobre amor e relacionamento, mas que, e talvez seja muito da experiência de vida da Pílar e sua relação familiar e do Saramago no auge dos quase noventa anos, trazem respostas que inclusive ressaltam o lugar social e político deles e nosso no mundo. Pílar traz muitas reflexões sobre a posição da mulher na sociedade e isso me marcou profundamente durante a leitura. É forte e necessário vermos uma mulher tão segura e verdadeira de si. Tem um trecho no qual ela fala que detesta o romantismo, pois é ele que tanto maltrata e faz diversas mulheres pelo mundo sofrerem e que essa ideia tem que acabar. Que é preciso sim ter paixão na vida pelas coisas que decidimos fazer, mas não nos subjugarmos ou nos colocarmos num lugar de espera de um príncipe encantado, isso não existe, é preciso que a mulher entenda isso e que tome as rédeas da sua vida, esse outro lugar passou no tempo e seus resultados são catastróficos até hoje.

trailer do filme




O livro, assim como o filme são muito bons para se ter uma ideia de quem foi esse homem, que aos sessenta anos começou a fazer uma carreira e um zumzumzum na literatura mundial. O homem por trás das controvérsias todas (ser ateu, comunista, português, mas que falava criticamente sobre Portugal, um "autor desconhecido" até então, enfim, inúmeras). E perceber que muito da fortaleza dele se construiu por ter ao lado uma grande companheira que o ajudou a disseminar bastante seu trabalho, suas escritas. E é tão bonito perceber que ele não apenas sabe disso como reconhece e agradece a todo momento. Chorei muito com esse filme e me emocionei com o livro em conhecer ainda mais a Pílar e pensar "quanta coisa ela disse aqui e eu ainda me coloco nesse lugar. Não quero! Não quero!" Que mulher forte e necessária hoje e sempre, precisamos aprender e crescer umas com as outras. Acho de uma partilha maravilhosa essa de nos possibilitar conhecer mais sobre esses dois e assim nos (re)conhecer também no mundo. 

Indico muito essa leitura e esse filme, quem ainda não o viu não pode mais deixar de assistir. Obrigada ao autor/diretor por nos possibilitar esse encontro. Saramago, presente! Pílar, presente!



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