Minissérie Anos Rebeldes - parte 1

Há muito tempo não vejo uma novela ou série global, a vida me afastou desse mote e muito contente abracei outros olhares, fazeres, ações. Nesse final de semana me deparei, me iniciaram, numa minissérie global da década de 90, Anos Rebeldes. Foi um sucesso estrondoso no País e relatava dentro de uma trama de amores o que o Brasil viveu em época de golpe militar (ainda no governo Jango antes do golpe e depois o que passou a ocorrer, a partir, da intervenção dos militares no governo brasileiro). 



A trama principal é floreada por uma história de amores impossíveis entre João Alfredo, um estudante militante de esquerda muito ativo na luta social, e Maria Lúcia, uma jovem que não gostava nada de discutir política, já que havia crescido num meio de intelectuais, devido o famoso pai jornalista, e, por isso, via a causa como perdida, pois, para ela, o pai nunca havia construído nada sólido em vida por estar implicado nas lutas políticas e sociais. Apesar disso, a minissérie traz os olhares de diversos personagens distintos na cena pública dessa época (o rico empreendedor - com cara de quem ia pra Marcha pela Família com Cristo; a juventude alienada; a juventude de esquerda e ativa; personagens feministas; a mudança de princípios políticos durante o período, enfim..) . Levando em consideração que a transmissão era feita por uma das cadeias que não apenas apoiou a ditadura em si, mas também ocupa hoje (e já naquela época) um lugar de peso e destaque no modo como a própria sociedade brasileira se vê e se molda - devido a forte inserção da Rede Globo no modo de pensar e agir dos brasileiros - quem, de certa forma, entende um pouco da história, viveu a época ou até se familiariza com o ocorrido no País, consegue para além da crítica extremista dos "ideias socialistas" plantados enquanto impossíveis e utópicos, as cenas reais da ditadura e a (re)caracterização de algumas intervenções muito intimamente tocam o expectador. 

Um mínimo de discernimento nos faz, de certa maneira, vê posições muito distintas daquilo que o País com uma minissérie desse escalão pretendia mostrar, e assim, de certa forma, nos coloca numa possibilidade de questionar esse modelo e pensar, no panorama atual, fatos e memórias que nos remetem a algo muito parecido hoje em dia. O Brasil vive novamente uma mudança muito brusca no contexto político atual e nas mudanças rápidas das quais o País se responsabiliza e tem em pauta, mas também daquilo que não era esperado (vide contexto econômico, social, público - com a COPA e as manifestações e, acima de tudo, referencial. Temos hoje uma identidade de povo cada vez mais enfraquecida, um modelo econômico e político que não tem referenciais de base bem delimitados, houve transição de um modelo político de direita 
evidentemente fechado e excludente, para um governo dito de esquerda, mas que faz concessões e alianças claramente dentro do modelo econômico neoliberal que visa um crescimento e fortalecimento do sistema capitalista no País. Esse confronto direto do que seriam ideais X práxis traz em cena o panorama atual, essa dúvida frente ao que é o Brasil hoje). 

Enfim, acho que a perspectiva de assistir a um 'romanceamento' de algo tão brutal e pesado e que nunca deixará a história do País, talvez pela própria impossibilidade de cessar já que não se fecha, acarretou nesse 'desabafo' para que pensemos mais acerca dos Anos rebeldes que nos cercaram e ainda cercam, ontem, hoje e no que está por vir.

Ainda não assisti a série toda (por isso a divisão em parte 1, do texto) teve de haver uma pausa, nem a arte consegue sublimar tanto peso do real, pelo menos até agora não... Por ora recomendo, mas como disse Clarice Lispector, aos que já tiverem alma formada.












Canción por unidad latinoamericana
Pablo Milanés - Versão de Chico Buarque/1978
Gravada no disco Clube da esquina nº 2 - EMI Odeon

  
El nacimiento de un mundo
Se aplazó por un momento
Fue un breve lapso del tiempo
Del universo un segundo

Sin embargo parecia
Que todo se iba a acabar
Con la distancia mortal
Que separó nuestras vidas

Realizavan la labor
De desunir nossas mãos
E fazer com que os irmãos
Se mirassem com temor

Cuando passaron los años
Se acumularam rancores
Se olvidaram os amores
Parecíamos extraños

Que distância tão sofrida
Que mundo tão separado
Jamás se hubiera encontrado
Sin aportar nuevas vidas

E quem garante que a História
É carroça abandonada
Numa beira de estrada
Ou numa estação inglória

A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue

É um trem riscando trilhos
Abrindo novos espaços
Acenando muitos braços
Balançando nossos filhos

Lo que brilla com luz propia
Nadie lo puede apagar
Su brillo puede alcanzar
La oscuridad de otras costas

Quem vai impedir que a chama
Saia iluminando o cenário
Saia incendiando o plenário
Saia inventando outra trama

Quem vai evitar que os ventos
Batam portas mal fechadas
Revirem terras mal socadas
E espalhem nossos lamentos

E enfim quem paga o pesar
Do tempo que se gastou
De las vidas que costó
De las que puede costar

Já foi lançada uma estrela
Pra quem souber enxergar
Pra quem quiser alcançar
E andar abraçado nela

Já foi lançada uma estrela
Pra quem souber enxergar
Pra quem quiser alcançar
E andar abraçado nela

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