O papel de parede amarelo - Charlotte Perkins Gilman



Eu sempre passava na livraria e lia a quarta capa desse livro e me empolgava "Vou ler esse livro um dia". Admito que esperei uma promoção para comprá-lo de vez, não que ele seja normalmente caro, mas pra quem é viciado em livro fica difícil comprar tudo o que se deseja de uma só vez. Então, consegui encontrá-lo por alguns golpinhos a menos e trouxe pra casa. O li em uma tarde. Rapidinho como quem descobre um tesouro. 

A versão dessa história que li é de 1973, mas na verdade, a Charlotte foi uma grande ativista dos direitos para as mulheres até 1935, ano de sua morte. Porém nos anos 70 a obra foi redescoberta pelo movimento feminista e essa é a versão que temos hoje, mas a história do livro é bem anterior, ele foi primeiramente publicado em 1892. Essa edição é da José Olympio, tem a apresentação feita pela incrível Marcia Tiburi e merece toda a divulgação possível, porque assim como o livro da Chimamanda - Sejamos todos feministas, é uma leitura base de literatura feminista que temos que difundir e enaltecer.

Esse livro é, na verdade, um conto da Charlotte. E é nos meandros da história, nas metáforas que ela usa e na sutileza das descrições dos acontecimentos e dos personagens que percebemos a crítica àquela época e o lugar da mulher na sociedade. O livro conta a história de uma mulher que está sofrendo de depressão nervosa temporária, de acordo com o diagnóstico dado por um médico e ratificado pelo seu marido, também médico. Ela então é levada para uma casa no campo para "melhorar" de seu estado. É nessa casa que ela tem de ficar em repouso dentro de um dos cômodos que possui um papel de parede amarelo que começa a intrigá-la. E assim, observando esse papel, o conhecendo, odiando e o amando, tudo ao mesmo tempo, que ela nos conta sua história (que ainda é a história de muitas de nós mulheres) e nos mostra seu sofrimento e aprisionamento não apenas naquele quarto, mas na sua vida e relação amorosa. Ao longo da leitura percebemos como funciona esse seio familiar, que não é composto apenas por ela e o marido, mas outros personagens importantes. No meio da leitura fui descobrindo outras coisas que não estavam expostas desde o início e que mostram muito sobre o lugar dessa mulher nessa casa, o fato dela não ser ouvida, nem levada a sério e tudo o que aponta para o final que temos e que é muito poético e sutil na forma como foi escrito.

O livro tem muito de descrições médicas e psicológicas e essa pesquisa da autora eu achei de suma importância. A minha formação é em Psicologia e fiquei a indagar como esse material seria interessante inclusive para se trabalhar na formação do profissional da área, em como os diagnósticos podem muitas vezes aprisionar mais do que ajudar na situação daquele sujeito em sofrimento. 

O livro foi duramente rejeitado e criticado na época de sua primeira divulgação, inclusive nessa edição há algumas das cartas de rejeite 
"Prezada senhora,
O Sr. Howells me enviou seu conto. Eu não poderia me perdoar se fizesse outras pessoas tão infelizes quanto fiz a mim mesmo!
Atenciosamente,
H.E. Scudder"


É uma leitura que me animou bastante e que indico desde então!! Existem livros que nos fazem pensar que nos transportam para realidade e esse sentimento de pertença durante uma leitura é o que faz com que o livro se torne essencial e fique na memória como um acesso para a vida toda. O papel de parede amarelo da Charlotte Perkins Gilman, uma leitura importante!


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