Para meu pai

Hoje trêmulo
me confundindo no meio da noite
entre lembranças
Numa casa vazia,
lembro-me de ti.

Lembro da boneca usada que com maior alegria recebi
E choro
Choro sua ausência desde então.

Há muito não mais lhe tenho
Há muito deixaste de ser.
Das memórias recordo-me com carinho
e esboço um triste sorriso ao fim.

O que dói na sua ausência presente
É saber que o meu sofrer em nada se compara ao seu.

Deves sentir falta de dar ordens
Do certo receio que tínhamos de ti
Apesar de todo o amor que sentias sem traduzir.
Deves sentir falta do teu livre ir e vir
E do quanto seu dia-a-dia movimentado te dava um sentido.

Hoje, esquecido em lembranças de um passado
Mecanicamente permanece
Não mais do que uma sombra do que um dia foi
E num olhar vazio e distante
procura um conforto,
mas confunde a vida em si
e paralisa.

Essa dor cotidiana
Talvez sirva de aviso
para que cada dia,
mesmo os mais confusos e balbuciantes,
Se tornem especiais
Já que é nessa ausência presente
que ainda te tenho para ver e sentir.

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