A descoberta

E o que a pressa de viver faz? Algumas vezes ela confunde o caminho e estraga a viagem.

Tenho muita pressa dessas que fazem mal, talvez porque achava que nunca ia viver mais do que os 20 e por agora me sentir perdida tudo que tenho me parece insólito, inconstante e perecível.

Me vejo errando, não satisfeita erro mais. Me vejo feliz, dai não acredito ser possível e acho mil e uma maneiras de provar que nessa vida não há lugar para essa tal felicidade. Estou inclusive com medo, porque estou com dificuldades para sonhar. Como pode? De repente, ou não tão de repente, me vejo sem a única coisa da qual me sentia segura: sonhar.

Achei que nunca amaria, não como meu primeiro amor, que foi platônico e por isso, perfeito. Nada supera os amores platônicos, eles dão cor, inspiração e vida, foi a época que vivi cada dia, que me via  plenamente completa com a idéia do impossível. Depois a vida me mostrou muito mais semelhanças com esse impossível, sendo estas nada agradáveis.

E então, conheci você. Tão parecido comigo, claro só fui notar depois, fechado, cheio de escudos, querendo sair, mas com medo e então uma diferença. Por mais medo que eu tivesse, você parecia a minha melhor chance de combatê-lo, por mais medo que você tivesse, não existia a chance de você combatê-lo, afinal, nunca daria certo... Te amei, não foi por decisão nem nada do tipo, simplesmente te amei e acreditei que poderia cultivar secretamente tal amor, afinal você nunca olharia para mim. Sim, sonhamos e idealizamos pessoas, relações, mas pior do que tudo isso é idealizar platonismos.

Dois anos se passaram. Nossa, já faz tudo isso e por algum motivo sempre nos revemos, nos amamos, brigamos e aí? Hoje tenho medo, tenho medo por ter desejado você, desejado a gente e sentido que, de certa forma, dessa vez não foi apenas um sonho meu. Então, talvez por isso, te magoei, não propositadamente, mas te magoei, para me atingir. Tola! Fico sem você, sem mim e vazia.

Tenho dificuldades de confiança, você sabe disso. Contigo isso instantaneamente sumiu, há algo em você que é anterior a mim, a ti, a nós. Há algo no salto, na repetição, nas chances que tomam um rumo maior nessa história. Que me tira e coloca no meu labirinto pessoal diariamente. Você diz que me faz sofrer, mas, na realidade, sofro de mim, você de você e na vida é assim, a diferença é que sinto diariamente o peso de ser eu, e quem sou eu? Mas também sinto o peso de você. E nessa possibilidade do impossível, continuo, prontamente errando, inevitavelmente pedindo desculpas, mas pela primeira vez sabendo o papel que você tem para mim, para minha vida, como nunca antes havia pensado. Você me faz ser eu, seja isso bom ou ruim e talvez, só talvez, eu desperte isso em você também, e nesse lugar quem sabe dizer quem é você? E isso importa? Nos separamos, brigamos, mas ao nos encontrarmos novamente voltamos a nós. E dessa 'união maluca' e que assusta não consigo pensar em outra coisa além de Obrigada e Desculpas, você todo dia me causa frio na barriga, me tira lágrimas, me torna humana novamente, me devolve meus sonhos, meus hoje tão escassos sonhos. Você todo você e eu toda eu.

"É necessário o amor para perdermos um pouco a poesia engessada pelas marés" SBX

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