Preparando o texto do Cartel e explodindo

Trechos de um artigo da Ana Maria Medeiros da Costa (link)

"A letra se encontra do lado do real, entre a escrição, a escrita e depois leitura. Lacan (1970-1971) vai definir a letra como "terra do litoral", "rasura de todo traço que esteja antes" e como "ruptura". É a forma como o sujeito inscreve alguma coisa da perda do objeto a; logo, a letra precisa de inscrição no discurso, pois participa de uma perda e de uma condição de gozo e se revela impossível de ser traduzida tal qual. Logo, o amor é o que permite recortar uma letra, uma perda do corpo, perda de gozo que irá permitir o laço social.

É neste campo que surgem as cartas de amor como cartas/letras. Elas são endereçadas ao Outro, são feitas em nome do amor, e são efeitos de gozo. Toda carta de amor é demanda, e toda demanda é, em última análise, demanda de amor. Por isso o amor demanda sempre mais. Os amantes sabem muito bem disso. No entanto a demanda de amor não é para ser atendida, pois somente nessa condição ela pode constituir um desejo. Ou seja, as cartas de amor se bastam como demandas, pois cifram o ponto em que o desejo é impossível e o gozo também, no que resiste ao saber. Podemos dizer que a carta de amor é demanda de um significante do campo do Outro que poderá nomear e circunscrever o campo de gozo do sujeito.

Desta forma, é no lado feminino do quadro da sexuação que a lógica do não todo predomina, lógica esta na qual a função fálica é precária, e verificamos uma demanda de amor intensa, pois na verdade é uma demanda por uma identificação do ser. Em Lituraterra Lacan (1971/2003) enfoca a carta/letra como efeito-sujeito, situando a letra como ponto limite e pivô da operação significante-gozo, chamando-a de letra-litoral. A carta/letra de amor situa-se nesse tênue litoral entre o sujeito que fala e o gozo que o habita. O sujeito é objeto em seu gozo e disso ele não pode falar. Esse é o ponto crucial da feminização diante da letra: um gozo sobre o qual não há o que dizer. Ele é pura presença.

O que, no lugar do feminino, não se escreve vem como demanda de amor nas cartas. É justamente pelo fato de o feminino apontar para um furo no saber que a carta/letra vai ser uma tentativa de produzir uma escrita neste furo."

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