Grande Sertão Veredas (fragmentos)

foto de acervo pessoal



"O correr da vida embrulha tudo, 
a vida é assim: esquenta e esfria, 
aperta e daí afrouxa, 
sossega e depois desinquieta. 
O que ela quer da gente é coragem. 
O que Deus quer é ver a gente 
aprendendo a ser capaz 
de ficar alegre a mais, 
no meio da alegria, 
e inda mais alegre 
ainda no meio da tristeza! 
A vida inventa! 
A gente principia as coisas, 
no não saber por que, 
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos, 
por todos remexida e temperada. 
O mais importante e bonito, do mundo, é isto: 
que as pessoas não estão sempre iguais, 
ainda não foram terminadas, 
mas que elas vão sempre mudando. 
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas. 
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor."



"Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo! - só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais em baixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?"

"A gente quer passar um rio a nado, e passa: 
mas vai dar na outra banda é um ponto muito mais em baixo, 
bem diverso do em que primeiro se pensou. 
Viver nem não é muito perigoso? 
Dói sempre na gente, alguma vez,
todo amor achável, 
que algum dia se desprezou...
Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, 
um descanso na loucura."


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