Homenagem ao poeta Mário Gomes



Sexta-feira passada foi feita uma homenagem nas mediações do Centro Cultural Dragão do Mar de Arte e Cultura para o poeta Mário Gomes. Falecido no 31 de dezembro de 2014, a perda de Mário Gomes para cidade foi sentida verdadeiramente. Entre inúmeros relatos de descaso com o poeta, com a sua vida, com o fato da família e governo "o abandonarem", nas redes sociais e fofocas de boteco desde o dia 31, a história da morte de Mário ganhou uma dimensão talvez até maior do que a própria fama dele nesses últimos tempos. Mas o caso é que Mário havia abraçado aquela vida errante, não trabalhava que era pra não 'desvalorizar a classe', ele dizia. E em meio aos amigos lá presentes, na sexta- feira, o relato de Tota, artista e amigo do Mário, tornou claro que havia muito mais que ninguém sabia ou via do poeta do que as línguas faladeiras dão conta. Só sabia ele (Mário) e olhe lá.

Todos que foram receberam um postal com essa imagem (acima) feita pelo artista Valber e que ficou uma beleza de 'retrato' do poeta. O poema que vinha no verso foi o Ação Gigantesca, que sem saber já havia postado por aqui antes

AÇÃO GIGANTESCA - Mario Gomes.


Beijei a boca da noite
E engoli milhões de estrelas.
Fiquei iluminado.
Bebi toda a água do oceano.
Devorei as florestas.
A Humanidade ajoelhou-se aos meus pés,
Pensando que era a hora do Juízo Final.
Apertei, com as mãos, a terra,
Derretendo-a.
As aves em sua totalidade,
Voaram para o Além.
Os animais caíram do abismo espacial.
Dei uma gargalhada cínica
E fui descansar na primeira nuvem
Que passava naquele dia
Em que o sol me olhava assustadoramente.
Fui dormir o sono da eternidade.
E me acordei mil anos depois,
Por detrás do Universo.


O Dragão estava repleto de gente, amigos do Centro, com suas histórias pra contar, pessoal 'mais conhecido' na cidade como a Maria Luiza e a Rosa da Fonsêca, o novo secretário nomeado da Cultura do Estado também esteve presente e falou bastante sobre a importância do poeta nas marcas do Centro da Cidade e para além dos papos políticos, que obviamente ocorrem, ele deixou claro que estava lá em nome do Estado e ressaltou que haveria de ocorrer uma homenagem próxima em algo concreto para Mário Gomes. Algo como uma estátua dentro do Centro Dragão do Mar, como temos a de Chico da Matilda - o nosso Dragão, e Patativa do Assaré. Bom, achei interessante, uma justa homenagem até, para uma das 'moradas' tão recorrentes dele, mas é sobre muito mais do que isso e foi na hora dos depoimentos que foi possível perceber o carinho, a figura que era e o imaginário que ronda Mário Gomes.


Foi passado um documentário interessantíssimo, cheio de relatos e declamações, do próprio poeta, achei na internet e disponibilizarei aqui.



Enfim, deixo para lá detalhes que na hora pareciam importantes, mas que agora, alguns dias depois, são apenas detalhes frente ao empenho que houve e a resposta final. Foi a presença de todos e a alegria com que ele foi lembrado, as saudações de novos jovens poetas "ao mestre", assim aclamado, que tornou essa saudação importante, não só para Mário, mas para uma memória da cidade. Observar essa memória e as narrativas frente aquele senhor, muitas vezes esquisito, outras um fanfarrão, ou simplesmente 'o tal Mário Gomes ali da praça'. Parecia que apesar do clima mórbido do início, do silêncio e solenidade que havia na Varanda do MCC, faltava um tiquinho de gozação e descontração que depois realmente tomou de conta do ar, com as histórias/estórias e gaitadas.

Foi uma noite boa! Mário Gomes vive! Mário Gomes, presente!

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