A fresta


Olhando por essa fresta de céu azul, tudo se desenha. Logo eu, agora tão desacreditada de amor, só consigo visualizar possibilidades para viver cultivando amar.
Com a risada das crianças gritando "Ana, vem brincar.." e a começarem uma amarelinha invisível num chão de pedrinhas onde o "céu" é o lugar exato para se chegar.
Depois, tem ainda o barulho das amigas na mesa ao lado desdenhando os paqueras do mês passado e reafirmando o quanto "essa sensação é demais".
E, por fim, vejo um casal sentadinho, um ao lado do outro, sem trocarem uma palavra, um extenso silêncio, não há sequer um toque, os olhares vão pra além-mar, "será? será?". Uma pesada e aparentemente triste respiração, entre um ou outro esperar.
Paro e tento ouvir um ou dois, ou vários passarinhos que estão a cantarolar ao longe. Azul e verde misturados entre as árvores, o vento nos meus ombros a girar meu labirinto interno. Simulo um sorriso, um novo e diferente sorriso que me salta à face de modo traiçoeiro e me permite um calor sincero antes adormecido.
É a vida que vive e pulsa como um chorinho dançante ou como esse sabiá que acabou de pousar. É agora, preciso ir, lá está ela, a fresta aberta. 

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