Caminhada

Existe algo muito certo das relações humanas: o outro só quer saber de si.

Se preocupar, dar voz e vez para que a diferença se assuma, para que um se cale e o outro escute é imprescindível para o contato e laço social. Aparentemente, isso é o mais difícil de se ter hoje em dia. Nas relações humanas o que prevalece é apenas a decisão pessoal: "na hora que eu posso; o único problema do mundo é meu; ME ESCUTE; não, não fale; você só pensa em você, eu mal comecei a falar," etc. Se damos a palavra ao outro, esse pode interpretar como no comando total da situação, então todas as atenções são pra mim e tudo que você faz é obrigatório, afinal "você é ou não meu amigo?!".

Aprendi desde sempre que uma relação não se faz numa via de mão única. Não, não é preciso esperar reciprocidade alheia, afinal, parece peça rara hoje. Mas aguentar tudo calado, inclusive a sua dor sem ser repartida, uma mágoa que te levou a extremos e nem assim poder contá-la para aquele que supostamente lhe estende a mão, é ainda mais doloroso que a própria dor em si. Experienciei nos últimos anos estar ao lado de pessoas muito difíceis, que julgavam ter os maiores problemas e tudo girava em torno da conversa deles. Era sempre uma carga muito negativa, de que nada na vida dava certo, de que o mundo é uma grande injustiça, de que há um sofrimento eterno, mas a alegria aos olhos do público se mantinha intacta, inquebrável, sempre a postos.

Dessas pessoas tirei a lição final, o adeus dito no momento eu que mais precisava delas. Do não impulso aos meus planos, de não ouvir em retorno: "E você? Como você está?". Enfim, de ter uma vida muito dada, e não, não sou perfeita, tinha dias que também queria falar apenas de mim, das minhas dores, mas tenho consciência do quanto me doei em relações que acreditava e do quanto sofri quando elas acabaram mal.

Está sendo um ano de constantes lágrimas e ao mesmo tempo, variados sorrisos. Tenho amigos que sei que posso passar anos distantes, mas o abraço do retorno é verdadeiro "Estou aqui, e você, como está?" A vida nos mostra caminhos lindos, apesar das dores, perdas, doenças, tristezas que nos acometem. Comecei um ano sozinha de pessoas, mas muito mais próxima de mim, de me respeitar, de não deixar isso me causar um mal novamente. Tentei me reaproximar, o mínimo possível, vi que em alguns casos havia um claro não. Na verdade, nunca houve a aproximação. Nem sempre a idade nos dá sabedoria, às vezes ela carrega tantas dores, que nos fechamos para o mundo e achamos que todos vão nos decepcionar como antes, que temos é de ser bem escrotos com todos, porque foi isso que aconteceu conosco nas primeiras vezes.

O que mais quero é não cercear meu coração, é não perder meu riso e meu amor gratuito. Perdi pessoas, nunca amigos. Amigos de verdade, não precisam de muito, apenas serem. A cada dia desejo mais e mais felicidades a todos que me desejam mal. Desejo que Deus dê coisas boas, como minha mãe me ensinou, assim um dia eles viram apenas lembrança de uma experiência de vida. De acreditar no melhor do ser humano, mesmo que ele não acredite em si mesmo.

Tem dias que me vejo muito fraca, que me deixo ficar mal por essas forças que me cruzam. Em dias assim eu repito a mim mesma tudo que fiz por esse outro e tudo que tive em troca e isso me ajuda. Não, nem sempre foi tão injusto, tiveram momentos muito bons, mas o interessante é ver exatamente como eles passam batidos e nunca foram lembrados e nem tiveram força diante do "veredicto final". Não há motivos deu me sentir mal, há motivos deu me alegrar pela minha diferença e de me permitir sorrir e viver, mesmo com as dificuldades, mortes e dores de todos os dias.

Enfim, foi uma noite de fechamentos. Infelizmente ainda me toca a bruteza e o egoísmo do ser humano, mas vamos em frente que 'a vida é como um rio que caminha para o mar'.









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