O infeliz editorial do Jornal O Povo e suas repercussões

Em ordem dos fatos:

1) esse é o link do editorial do dia 06/03/2015 Clique aqui
2) essa foi a resposta da Ombudsman do jornal com relação ao ocorrido e devido os emails recebidos Clique aqui
3) essa foi uma das respostas na parte dedicada ao leitor e na versão online do jornal, datada de 09/03/2015 Clique aqui

Depois de 7 dias do famigerado editorial do jornal O Povo ainda decido me pronunciar, tendo em vista que não houve uma real resposta do jornal ao ocorrido. A resposta da Ombudsman em sua coluna, não mostra de forma alguma como foi irreal, preconceituoso, machista e misógino tal texto. Inicia uma fala dizendo que "sim, foi errado" e depois se coloca numa categoria de elencar com dados e planilha erros e acertos do jornal e tipos de respostas nas páginas das redes sociais. 

O editorial saca de inúmeras tentativas de menosprezar a importância e necessidade da lei que classifica o feminicídio como crime hediondo. Coloca a questão como pauta de "grupos influentes" e que assim a vida de uma mulher acabaria valendo mais do que a vida de um homem. Indica que isso feriria o direito constitucional de igualdade para todos, porque denota que há uma diferença e reafirma a importância, segundo ele, autor do texto, de que a lei seja vetada. Não me estenderei nas outras atrocidades proferidas no texto, tentando trazer à tona encoberto em um discurso liberal, discursos de ódio e gênero.

Talvez o tal jornalista não saiba, ou fingiu não saber, que a maioria das mortes de mulheres são mortes pelo simples fato delas serem mulheres. Foram mortes feitas por seus maridos ou companheiros de vida, que muitas vezes logo após o ato choram e sofrem dizendo terem perdido a cabeça, que foi a bebida, que não aguentaram o fim do relacionamento e num momento de raiva acabaram fazendo aquilo... etc, etc, etc. Talvez o tal jornalista, não veja as inúmeras matérias diárias do próprio jornal onde trabalha que mostra o quanto a violência doméstica aumentou e para números horrendos, causando não mais a violência psicológica e corporal de antes, mas levando à morte. E, acima de tudo, talvez o tal jornalista não se dê conta e todo o jornal também, que deixou passar tal texto, que dois dias antes de ser celebrado o dia 8 de março, todos apenas corroboraram com a antiga e preconizada lógica da mulher se calar, aceitar florzinhas e marchar ao som dos que mandam verdadeiramente. "Feminicídio? Ahh que bobagem. Mimimi de feministas revoltosas. Direitos iguais uma ova! Ganhar o equivalente? Abrir oportunidade para debate? Isso é um País do retrocesso, por isso que está assim"..

Depois de inúmeros emails enviados e um retorno de que algo seria feito ainda estou aqui esperando, não, não me calei. Não nos calamos e  muito ainda tem de ser dito com relação ao ocorrido.

Ah, se a mulher tivesse direitos iguais.. Não mais do que o homem, apenas iguais. Inclusive o direito de viver como mulher e não ser assediada nas ruas, por idiotas nojentos, o direito de não ser estuprada a força caso negue um beijo numa festa, o direito de seu NÃO significar NÃO. E só. O direito de não precisar de uma lei própria para saber que ser morta por alguém, que antes dividia uma vida e sonhos, é um crime hediondo sim. Morrer por apenas ser mulher. Ser aquela mulher que decide fugir da vida de humilhação e mesquinharia e viver seus sonhos e desejos. Ter tido coragem e isso lhe implicar a liberdade de viver. 

Então Jornal O Povo, espero verdadeiramente não "um pedido de desculpas", mas uma resposta concreta, honesta e minimamente realista diante dos fatos.

Art5 "todos sao iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza". Certo...


Assim, desenhado.






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