Há vida nessas esquinas
Começou o pré-carnaval nessa cidade solar.
Estava eu voltando ontem cheia de alegria, apesar da doença me corroer por dentro, da primeira festa oficial de abertura do pré-carnaval nesta Fortaleza dourada. E vendo tanta energia ao meu redor um sorriso bom de esperança me foi tirado do rosto. Mesmo que efêmera, a festa que a vida pode trazer e fazer, os encontros e reencontros que podemos nos proporcionar são essenciais e marcantes.
No meio disso tudo, ao final volto pra casa cansada, muito mais que o normal, porque o pulmão não está me deixando respirar cem por cento devido uma tosse seca de cachorro, e me deparo com uma cena linda entre um sinal fechado e outro deste Centro da cidade pulsante.
Era talvez onze e meia e parei em um sinal vermelho que cruzava a Av do Imperador, ainda cheia de ônibus, movimento e carros. Numa esquina onde tinha esses kitinetes de dois andares vejo uma cena linda, quase romântica, não fosse a cachaça do personagem principal e a leveza das palavras da outra.
A cena consistia em um pedido desesperado para abrir a porta de casa, porque ele arrependido do que havia feito, e eu me corroendo para saber o que havia sido, mas já imaginando mil e uma possibilidades, gritava para a amada no segundo andar o aceitar, que era o amor da sua vida, não saberia viver só.
A amada o chamou de tudo, menos do nome, por isso os batizei carinhosamente no meu imaginário de Tereza e Arnaldo. Arnaldo pedia desculpas, mal se segurava em pé e talvez eu tivesse chegado ao fim de tudo, no exato momento do reencontro, pois Tereza já cansada grita do segundo andar "Pois sobe cão, mas se eu sentir um cheiro de cachaça amanhã..." Daí ela joga a chave e em seguida um travesseiro "E hoje você dorme no sofá." Arnaldo apanha tudo, solta um sorriso e um alto "Eu te amo, muié" Nem sei se acertou a chave na fechadura, levei uma buzinada do carro detrás, talvez o sinal já tivesse verde há tempos, mas quem liga, tinha mais vida nesse meio de rua. Tive que passar a marcha e sair, acredito que Arnaldo hoje não bebeu, não por Tereza talvez, mas quem sabe o sofá era ruim, ou as ruas do centro de pedra eram frias demais para começar o final de semana.
O interessante disso tudo, é que meu sorriso dantes reflexo de um reencontro com amigos e um cheiro doce de início de chuva, me voltou agora cheio de liberdade de vida, cheio de amor e ironia e torcendo para que a Tereza, o Arnaldo, a Joana, o João, eu e você, nos reencontremos amando nossos travesseiros, seja na sala ou no quarto e bebendo nossa cachaça de vida, seja na trambicagem ou na necessidade do néctar diário.
E assim a vida segue, no Carnaval ou não, há vida todos os dias nessas esquinas.
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